quinta-feira, 11 de junho de 2015

A Realidade é Fantasia


Mesmo que enquanto dormia algo lhe puxasse os pés abominavelmente, ela nunca passaria a acreditar no bicho papão. Era como se a realidade tomasse conta da fantasia, não faz sentido. A fantasia é algo instável, algo imutavelmente bela, do seu cotidiano. Já a realidade; Não pode ser! -pensava- O bicho papão não pode ser fantasia, é real! Como é possível estar à puxar meus pés a noite. Não. Estão loucos em dizer que tal ser é fantasioso.
A duvida corria a solta, os seres místicos teimavam em não crer no bicho papão.

-Como ele é?
-Parece um monstro, Picea! Roubam flores do nosso jardim sem nem ao menos pensar na vida das coitadas!
-Não creio que seja possível, que ser fantasioso faria tal absurdo? Impossível, impossível!
-Ouço meus vizinhos reclamarem de uma moradora da vizinhança, Tulipa, que está à beira da loucura. Dizem que o bicho papão anda rondando seu quarto durante a noite.
-À fazer o que?
-Ela diz sentir algo puxar seus pés, acho que está puxando pela raiz.
-O que será de nós, Eucalipto?
-Uma imensa área revestida de terra sem vida.
-Mas não pode ser! Não pode ser fantasia!

No dia seguinte podiam observar a fantasia sendo tomada pela realidade, seu comandante:O bicho papão.
Raquel Silva_Prepara-me.

terça-feira, 9 de junho de 2015


Eu espero que a morte seja doce.
Tal qual é doce o orgasmo que me sobe dos seios à boca.
Tal qual é doce o tato e a pureza do sexo vulgar que me toma conta das pernas.
Tal qual é os olhos de uma criança que sonha com o mundo mágico e o herói,
Que não virá.
Raquel Silva_Prepara-me.
Há bocas,
Há coisas,
Há louças,
Ou não.
O mago
Que geme,
Domina,
E grita
Pra flor.
Dos sonhos
Que sonham
Com sonhos
Que dançam
O amor.
Há olhos,
Há magos,
Há louças,
Ou não.
Há magos,
Há toques,
Há mortes.
Há flor.
Raquel Silva_Prepara-me.

Amália

Prévia.

Vejam só! Uma bela flor-de-lis passar acompanhada do vento. Onde será que tão bela moça irá a essa hora? Talvez encontre com teu amor, Armando, cavalheiro jamais visto que reside num casarão escondido atrás de árvores tenebrosas e jardins esplêndidos no fim da única rua sem saída da Vila de Cristal.
Ninguém sabe ao certo quem o moço é, apenas que pequena Amália estava perdidamente apaixonada.
Certa vez uma jovem decidiu descobrir se Armando realmente era tão belo como dizia Amália. Alguns dizem que logo depois da sua entrada pelos portões de Armando, morreu. Outros dizem que se apaixonou e decidiu ficar. Já Amália, diz que nem ao menos soube de tal decisão dessa jovem, tampouco do sumiço.
Como sempre, o tempo voou e num belo dia Amália se encontrava encostada na varanda observando o pôr-do-sol, enxugando lágrimas salgadas e entristecidas. Rebuscava em uma mágoa mergulhada em rancor, o canto dos pássaros não eram mais agradáveis, mas gritavam dentro de seu ser.
Logo se pôde ouvir o portão de Armando abrindo acompanhado com um arquejo estertor de um homem alto e forte, negro. Seria Armando? Seria o tal cavalheiro que pequena e bela Amália sentia-se apaixonada? Até aquele momento, todos se perguntavam o que acontecia na pequena Vila de Cristal.

Amália levantou seu rosto trêmulo, olhos arregalados que brilhavam como chamas na superfície de um lago que transbordava águas salgadas. E então todos puderam ouvir, pela primeira e ultima vez, um suspiro de Armando.
Raquel Silva_Prepara-me.
-Ele me parece tão infinito! Sua imensidão de vidas desconhecidas, a escuridão, e o maior prazer em estar só. 
Havia um horizonte em seu olhar, ela brilhava, ela o servia.
-A cabeça é a única que pesa. Pode-se ouvir um oco, o som do quase silêncio, sente as veias pulsando, o coração batendo, os dedos se enrugando, e a paz de não se esforçar.
Cansaço. Seus olhos demonstravam agora o cansaço. 
-O medo da morte e o amor aos outros prazeres mundanos.
Ela inclinou o peito ao sentir o vento tocar seu rosto, abriu os braços como se fossem asas e sorriu. 
-Sentir os pulmões pulsarem em busca de oxigênio, estar o mais próximo da ausência da gravidade e então, a vontade de mergulhar na solidão profunda. É profano e incrivelmente equilibrado, quanto mais fundo, mais parte de tudo aquilo você é.
O olhar e sorriso se perderam, ficou fazia, lembrou-se de algo. 
-Mas é pena.
-Pena? – Indaguei.
-Pena que o sal te corrói. 
Silêncio e quietude.
-Mas infelizmente nenhum portador de águas doces tem a imensidão ou sequer a vida que ele carrega em si.
Seu maior prazer eram as águas, e a única coisa que a aproximava da morte.
Raquel Silva_Prepara-me.

Tolotto


Tão estranha, tão sozinha
Tão bonita e tão distante.
Tem passo lento e pesado
Sem percepção de mundo pra saber
Que é tão estranha e tão bonita.
Raquel Silva_Prepara-me.